terça-feira, 20 de setembro de 2011

Pandora


Há vários dias sem ver televisão e não lhe sinto a falta.

Não sei o que se passa ao redor, mas acredito que esteja

tudo igual. Longe vão os tempos em que a programação semanal

era variada e tinha alguma qualidade recreativa e cultural e a digressão

pelo país e pelo mundo noticiava acontecimentos que eram elucidativos

de diferentes modos de ser e de estar. Hoje, à conta dos

canais temáticos, tudo se esgota. Quem tem paciência para ver horas

de policiais, de humor, de música, de desporto, de documentários, de notícias,

de filmes...? E, nos canais generalistas, quem suporta telenovelas, concursos,

entrevistas, protagonizadas por figuras ocas de capas de revista? A caixa que mudou

o mundo perdeu a inteligência e a lucidez num afã concorrencial - e perante

isto, concluo: agradar à maioria nunca é bom sinal. Pensamento elitista? Talvez.

Mas, hoje, gostaria de deslumbrar o olhar num episódio de uma série

inglesa de qualidade ou de mergulhar na profundidade de uma entrevista

conduzida por um verdadeiro comunicador. Hoje, gostaria que a caixa não formatasse

no mau e no medíocre e que, ao contrário, elevasse no sentido da diversidade e

da qualidade humana. Mas a caixa, hoje, é apenas uma caixa. O que se pode

esperar de uma caixa? A melhor recordação que tenho de uma  é de quando

aí guardava os bichos da seda, que alimentava com folhas de amoreira,

esperando pela metamorfose.