A Perfeição
O rasgo literário está presente, quando de um conjunto
de palavras emerge a poesia. Não há grande escritor em que isso
não aconteça - e justamente é num articulado em prosa que esse feito
é mais relevante. Sem a musicalidade poética não há trecho literário, embora
os domínios daquilo a que chamamos literatura sejam vastos e vários. Um bom
exemplo disto mesmo é o conto «A Perfeição» de Eça de Queirós. O grande
escritor encontra, por exemplo, nesta narrativa, o equilíbrio perfeito entre
a cadência melódica das palavras e das frases e o seu significado. A harmonia
é tão perfeita que o título do conto enuncia um paradoxo de conteúdo:
ao mesmo tempo que Ulisses, o Homem, rejeita a perfeição da imortalidade
presente na vida dos deuses, que lhe é oferecida por Calipso,
o autor encontra na perfeita união do significante e significado
das palavras o timbre que ecoa e alude ao mistério
da eternidade de cada momento. E isto eu experimentei, quando, nos últimos
dois dias, vagarosamente, reli esta história. Imperfeitamente soletrando,
na minha mortal condição humana, saboreei dos deuses o néctar
como sentada numa rocha, rodeada de um mar muito azul,
silente e eternamente suave.
O rasgo literário está presente, quando de um conjunto
de palavras emerge a poesia. Não há grande escritor em que isso
não aconteça - e justamente é num articulado em prosa que esse feito
é mais relevante. Sem a musicalidade poética não há trecho literário, embora
os domínios daquilo a que chamamos literatura sejam vastos e vários. Um bom
exemplo disto mesmo é o conto «A Perfeição» de Eça de Queirós. O grande
escritor encontra, por exemplo, nesta narrativa, o equilíbrio perfeito entre
a cadência melódica das palavras e das frases e o seu significado. A harmonia
é tão perfeita que o título do conto enuncia um paradoxo de conteúdo:
ao mesmo tempo que Ulisses, o Homem, rejeita a perfeição da imortalidade
presente na vida dos deuses, que lhe é oferecida por Calipso,
o autor encontra na perfeita união do significante e significado
das palavras o timbre que ecoa e alude ao mistério
da eternidade de cada momento. E isto eu experimentei, quando, nos últimos
dois dias, vagarosamente, reli esta história. Imperfeitamente soletrando,
na minha mortal condição humana, saboreei dos deuses o néctar
como sentada numa rocha, rodeada de um mar muito azul,
silente e eternamente suave.