sexta-feira, 26 de agosto de 2011



Desafio


As novas regras da ortografia, em Portugal, serão, a partir

de hoje, um desafio para mim. Depois de décadas a escrever

e a olhar cada palavra na sua inteireza ortográfica, tenho

agora de recriar um novo olhar e de buscar nas novas formas

talvez outras e novas qualidades. Entendo que a língua é

um organismo vivo e, como tal, sujeito à transformação e à

mudança - por isso, não me espanta que as palavras se

transfigurem. Contudo, no caso presente, tenho sérias dúvidas

que as atualizações estabelecidas mais não correspondam senão

que a interesses dos grandes grupos económicos que são as editoras

de além e aquém-mar. A história da língua o julgará. A mim

compete-me apenas seguir a norma linguística: é o que farei;

mas não sem antes lançar um último olhar sentido a cada

palavra dos livros da minha biblioteca, agora, transformada

em artefacto de fundo histórico documental. Por isso, nos

últimos dias, em cada livro que folheio anoto mentalmente

a nova grafia das palavras - é uma despedida; é uma reviravolta

no tempo: e estranhamente, ou não, vejo-me projetada para

um futuro que não devia estar a viver. Mas é assim, hoje, a Morte

já não aguarda por nós quando a revolução singra nos Tempos.



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