Dolce far nuovo
A geração que nasceu na década de sessenta
é uma geração subitamente marcada pelo arrojo imparável da mudança
constante. Talvez, devêssemos ter suspeitado disso mesmo,
se é que aos seis anos se antevê o sentido de transformação
do mundo, aquando da chegada do homem à lua. Nessa altura,
as televisões eram ainda aparelhos muito pouco sofisticados
e a qualidade de recepção das imagens era muito deficiente.
Ainda assim, olhando para um écran eivado de uma chuva cinzenta
de pontos de geração electrónica, devo ter acreditado que um
tempo novo era acabado de chegar. E isso tem sido sempre confirmado
ao longo da minha vida. Da máquina de escrever e do papel de cetencil
com um estilete, passei para um primitivo computador com Dos,
e avancei para a maravilha do Windows um pouco mais tarde
(muito pouco, por sinal). Há menos de dez anos, aprendi
a desbravar a Internet e o meu filho iniciou-me recentemente no Linux.
Esta é apenas uma categoria de exemplos, porque a mudança, súbita,
intensa e exigente, está presente em tudo à nossa volta.
Do tempo, quando nasci, fica-me o esteio de uma permanência
substantiva e reparadora presente em todas as coisas. O que se aprendia,
diz-me a memória que tenho desse mundo, eram saberes para uma vida.
E o aperfeiçoamento partia de uma base sólida e segura de referência
que era à vista de cada ser humano quase imutável.
A minha geração, contudo, nascida ainda como herdeira de uma lição de passado,
viu-se iniciada num Novo Tempo em que
constantemente a novidade nos assalta e,
na mesma medida, nos desafia a cada passo do percurso do dia.
Por isso, tristemente, já nada me espanta! E digo tristemente, porque
entendo que o espanto deve ser a condição de natureza primeira
de todo o Homem. Perdido, então, o que haverá?
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