segunda-feira, 20 de junho de 2011

Dolce far nuovo


A geração que nasceu na década de sessenta

é uma geração subitamente marcada pelo arrojo imparável da mudança

constante. Talvez, devêssemos ter suspeitado disso mesmo,

se é que aos seis anos se antevê o sentido de transformação

do mundo, aquando da chegada do homem à lua. Nessa altura,

as televisões eram ainda aparelhos muito pouco sofisticados

e a qualidade de recepção das imagens era muito deficiente.

Ainda assim, olhando para um écran eivado de uma chuva cinzenta

de pontos de geração electrónica, devo ter acreditado que um

tempo novo era acabado de chegar. E isso tem sido sempre confirmado

ao longo da minha vida. Da máquina de escrever e do papel de cetencil

com um estilete, passei para um primitivo computador com Dos,

e avancei para a maravilha do Windows um pouco mais tarde

(muito pouco, por sinal). Há menos de dez anos, aprendi

a desbravar a Internet e o meu filho iniciou-me recentemente no Linux.

Esta é apenas uma categoria de exemplos, porque a mudança, súbita,

intensa e exigente, está presente em tudo à nossa volta.

Do tempo, quando nasci, fica-me o esteio de uma permanência

substantiva e reparadora presente em todas as coisas. O que se aprendia,

diz-me a memória que tenho desse mundo, eram saberes para uma vida.

E o aperfeiçoamento partia de uma base sólida e segura de referência

que era à vista de cada ser humano quase imutável.

A minha geração, contudo, nascida ainda como herdeira de uma lição de passado,

viu-se iniciada num Novo Tempo em que

constantemente a novidade nos assalta e,

na mesma medida, nos desafia a cada passo do percurso do dia.

Por isso, tristemente, já nada me espanta! E digo tristemente, porque

entendo que o espanto deve ser a condição de natureza primeira

de todo o Homem. Perdido, então, o que haverá?

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