sábado, 18 de junho de 2011

Sossego


Não ser agente do conflito: do dedo apontado

em riste, da voz que se eleva em condenação e em

crítica. Isso é paz. O julgamento e o juízo sobre os outros

não nos compete, quando somos apenas parceiros de jornada.

Ao invés, é o olhar sobre nós que deve ser consciente e agudo.

Por isso, talvez, como pacificação dos últimos dois dias, a oliveira

transplantada da Azinhaga para Lisboa, à sombra da qual repousarão

as cinzas de Saramago, me devolva o sentido da medida das coisas.

Na vida, há uma margem de silêncio que dignifica e que confere

integridade. Em circunstância alguma, pode ser quebrada; ainda que,

ao mantê-la, as circunstâncias nos sejam, aparentemente, adversas.

A esperança de vida da oliveira, roubada à terra, está na força

das suas raízes. Também em cada um de nós a esperança radica na força

das raízes internas no nosso Ser. Se forem fortes, essas raízes, não há

mudança ou intempérie que as ceifem, pois profundamente nos

sustentam. E, assim, num dia de homenagem ao nosso prémio Nobel da Literatura,

no primeiro aniversário da sua morte, recapitulo uma lição de

vida, até nas nossas cinzas deve estar depositada a nossa

coerência.

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