Sossego
Não ser agente do conflito: do dedo apontado
em riste, da voz que se eleva em condenação e em
crítica. Isso é paz. O julgamento e o juízo sobre os outros
não nos compete, quando somos apenas parceiros de jornada.
Ao invés, é o olhar sobre nós que deve ser consciente e agudo.
Por isso, talvez, como pacificação dos últimos dois dias, a oliveira
transplantada da Azinhaga para Lisboa, à sombra da qual repousarão
as cinzas de Saramago, me devolva o sentido da medida das coisas.
Na vida, há uma margem de silêncio que dignifica e que confere
integridade. Em circunstância alguma, pode ser quebrada; ainda que,
ao mantê-la, as circunstâncias nos sejam, aparentemente, adversas.
A esperança de vida da oliveira, roubada à terra, está na força
das suas raízes. Também em cada um de nós a esperança radica na força
das raízes internas no nosso Ser. Se forem fortes, essas raízes, não há
mudança ou intempérie que as ceifem, pois profundamente nos
sustentam. E, assim, num dia de homenagem ao nosso prémio Nobel da Literatura,
no primeiro aniversário da sua morte, recapitulo uma lição de
vida, até nas nossas cinzas deve estar depositada a nossa
coerência.
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