Doravante um rio
Há momentos em que a falta de confiança
está à espreita em nós para nos sufocar num
desassossego. A leitura dos jornais, as emissões
de televisão, as declarações dos políticos e dos
não-políticos, as conversas, em geral, que mantemos
com aqueles que nos rodeiam, tudo, enfim, contribui
para gerar um sentimento de exaustão. Às vezes, abre-se
uma esperança: uma notícia de que no estrangeiro, lá longe, alguém
não baixa os braços e firma colectivamente uma posição
e mobiliza uma dinâmica empreendedora de um caminho de justiça,
essa notícia recria em mim a possibilidade de que talvez
algo seja possível ser mudado e a sociedade e o homem transformados.
Mas, não é mais do que um fragmento de sonho já quase vazio.
Por isso, não creio mais nos oceanos (onde, de resto, despejamos
os lixos), não creio mais nas imensas águas que criaram
uma só civilização, raça e cultura, não creio nos mares
sem segredos por desvendar. Agora, farei a exaltação do rio:
o rio que liga margem a margem; o rio que se aventura no
serpentear do terreno; o rio que espelha o rosto de cada ser.
E, nessas calmas águas esquecidas, verei os ciclos da vida.
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