quarta-feira, 15 de junho de 2011

Doravante um rio


Há momentos em que a falta de confiança

está à espreita em nós para nos sufocar num

desassossego. A leitura dos jornais, as emissões

de televisão, as declarações dos políticos e dos

não-políticos, as conversas, em geral, que mantemos

com aqueles que nos rodeiam, tudo, enfim, contribui

para gerar um sentimento de exaustão. Às vezes, abre-se

uma esperança: uma notícia de que no estrangeiro, lá longe, alguém

não baixa os braços e firma colectivamente uma posição

e mobiliza uma dinâmica empreendedora de um caminho de justiça,

essa notícia recria em mim a possibilidade de que talvez

algo seja possível ser mudado e a sociedade e o homem transformados.

Mas, não é mais do que um fragmento de sonho já quase vazio.

Por isso, não creio mais nos oceanos (onde, de resto, despejamos

os lixos), não creio mais nas imensas águas que criaram

uma só civilização, raça e cultura, não creio nos mares

sem segredos por desvendar. Agora, farei a exaltação do rio:

o rio que liga margem a margem; o rio que se aventura no

serpentear do terreno; o rio que espelha o rosto de cada ser.

E, nessas calmas águas esquecidas, verei os ciclos da vida.

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