Dormência
Talvez estejamos adormecidos. Talvez tenhamos
deixado de nos questionar. Talvez o encolher de ombros
e a aceitação acritica de quem não encontra alternativa
faça já parte do quotidiano de cada um de nós. Hoje, comprei
robalos - frescos, prateados e brilhantes - são robalos gregos,
a um preço módico e acessível. E, então, lembrei-me do mar que
configura a nossa geografia... talvez já não exista senão nos versos
perdidos dos poetas... talvez que esse mar seja hoje um deserto
e que, em vez de expandir, aprisiona a nossa natureza diária e quotidiana
de gente sem identidade própria nem cultura. Hoje, a economia sobrepõe-se
aos séculos de devir dos povos. Por isso, numa dormência sem voz, almoçarei
os robalos gregos e da janela da minha casa, outrora virada para o mar,
perscrutarei o céu em busca de um navio que navegue silente
em um novo novo mar.
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