domingo, 31 de julho de 2011

Nanopartículas


Os milagres da sobrevivência, no mundo ocidental,

estão, cada vez mais, concentrados nas

nanopartículas. É espantoso

como o infinitamente pequeno pode contribuir,

e contribui, para o prolongamento da vida,

quando o organismo do indivíduo, por qualquer

razão, deixa de funcionar perfeitamente.

Mas estes milagres impensáveis há anos atrás

são também consequentes de novas necessidades,

que se impõem, ante um modo de vida actual que

padroniza hábitos de consumo, nomeadamente alimentares,

que em muito antecipam o desequilíbrio e

a doença. Contudo, genericamente falando, observa-se

que é mais barato comprar um medicamento para regular

níveis de gordura no organismo do que, diariamente,

fazer uma dieta saudável e equilibrada. Entre a conta

da farmácia e a conta do supermercado pesa-se uma escolha.

Entre um bem alimentar normalizado, fertilizado, criado

de forma massiva, manipulado e um produzido de forma

natural não há escolha, porque o segundo é praticamente

inexistente.

Observo, então, que aparentemente o futuro do homem ocidental

estás nas mãos de uma quase invisibilidade

sintética - criada e manipulada por indústrias poderosas -;

e, neste ponto, estes demiurgos do presente

serão talvez seres de alma vendida, que, sem pensarem,

procuram o elixir da longa vida.

sábado, 30 de julho de 2011

Cinéma


O acento não é engano. A palavra do título está mesmo

inscrita em francês. Apeteceu-me. Fica com outra melodia

e qualquer falante de português perceberá. Às vezes é assim,

na procura das palavras, surge um apontamento ou uma inscrição

numa outra língua e só nela é que, o que se pretende dizer, passa

a fazer sentido. Também é assim com as ideias: no desfiar do pensamento,

surgem umas e são eliminadas outras, mas há, necessariamente, um fluir.

E este fluir é à imagem de um filme equivalente - primeiro,

gravamos as imagens, depois, seleccionamos e montamos

a sequência, que terá sentido. Contudo, na mente,

o processo, embora, certamente técnico, não

é consciente, senão a partir do ponto

em que, quase como espectador, quem escreve assiste ao desenrolar

da longa ou curta metragem ante os seus olhos.

E, nisto, a escrita tal como o cinema são extraordinários,

permitem a efabulação dos mistérios da natureza humana.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Viaduto


O antúrio, habituado à incidente claridade

densa da sombra, resistirá, quando transportado

para o ar livre e o sol? Todos os dias, ultimamente,

penso nisto. E é trabalhosa esta reflexão.

Tão trabalhosa que deixei de reflectir sobre qualquer

outro assunto ou tema. Talvez que, afinal de contas,

também apenas isto importe aos grandes do mundo: saber qual o destino

das plantas - que tão imóveis e acomodadas -

nem dão trabalho

no alcatrão da estrada.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Fuso Horário


Para onde vai o Tempo? Para onde escorre?

Porque há sempre um dos lados do planeta dormindo?

Porque muda a Hora no Inverno e no Verão?

Porque não medimos o Tempo só com relógios de areia,

vendo escoar cada grão como um tic-tac imóvel?


Apenas as escalas dos aviões, nos aeroportos, de todo o mundo,

vencem este desconcerto dos milésimos de segundos.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

Aroma de café


Vivemos tempos em que a imprevisibilidade

é a nota dominante do nosso quotidiano. Como

será a situação social, económica ou política

daqui a um ano, daqui a seis meses, na próxima

semana? Não se sabe. E, no entanto, a maioria de nós

vive absorta a esta fragilidade absoluta do dia-a-dia.

Exemplo disso está patente numa ida

a uma loja de venda de cápsulas de café da Nespresso:

o cerimonial de circunstância no atendimento a cada

cliente, por parte dos colaboradores da loja, faz-nos

pensar que atingimos os picos extraordinários

de algum estatuto social ou humano,

traduzível numa afectação de cortesia

em que tudo é representação. E é desse mesmo teatro que se alimenta,

na vida, a crise económica e política, as estruturas de poder, e até as

relações humanas. Tudo é raro, extraordinário e imprevisível,

mas continuamo-nos a comportar como actores em palco,

representando um certo, mesmo frágil, papel, numa

opereta em que, como os colaboradores da Nespresso,

não nos rimos e como que levamos a sério

o cerimonial de afectação. Tudo é de plástico, neste

momento. Na próxima ida à loja da Nespresso,

irei exigir a reutilização do saco e não a sua reciclagem.

Talvez, aí, então, perante um facto inusitado,

eu chegue à fala com um outro ser humano.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Abóbora-Carneira


De facto, por estes dias,

para completar o poema de Cesário,

só faltavam

as duas frugais abóboras-carneiras...

e ei-las, as minhas, que chegaram a minha casa:

vermelhas, fartas, enormes,

como sustentando em vitalidade e força

as gentes todas do mundo.

E não houve mais que saber... das abóboras-carneiras

à vista de todos

como é natural

fez-se um festim

entre amigas:

e a mesa farta alimentou

cada ser que por aqui passou...

Não houve quem não gostasse

deste alimento da terra,

que, sem taxa nem comércio,

partido e dividido,

cozinhado e preparado,

relembrou a cada um o valor

de cada... lívido cobre.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Sempre Imutável Desafio


Cada tarefa, em cada momento, deve ser um desafio

que se enfrenta como que renovado. Nada, como muito bem sei,

é permanente: nem a inteligência, nem a força, nem

a capacidade, nem a beleza, nem a vida. Sabendo isto, o homem

só pode humildemente ser. Encontrar o caminho para a Índia

acontece apenas uma vez... mas em cada outra viagem

a atitude deve ser igual à da primeira: e nisto

não pode nunca haver glória firme e alcançada,

pois na natureza frágil do homem

está a desdita

concertada.

domingo, 24 de julho de 2011

Rumar


Que outrora longe é, hoje, tão presente

que anula a distância, silenciosamente?

Será a foto que o O. me deu ontem?

Serão os ínvios acontecimentos do mundo,

tão longe e tão perto? Oslo, Líbia, Somália...

Será a quietude do bairro, adormecido ao sol,

neste Domingo na manhã sem varinas nem pregões?

Tudo isso e o mar... Tudo isso e a ausência do vento,

que agora se transformou em brisa suave...

E, assim, à bolina, sigo o caminho neste vasto oceano

que oculta, no eterno presente, as asperezas da vida.

sábado, 23 de julho de 2011

Em Ogígia, a paz


Estranhamente, só há perfeição,

quando, perfeitamente, desaparece

na totalidade, em cada um, a consciência dela.

Enquanto, na ordem das coisas, houver

a consciência do juízo

do muito bom e do excelente,

estaremos no rol superficial da acção

que compara

e avalia ou auto-avalia.

Se tudo isso desaparecesse, em cada um,

ficaria apenas o Ser

e, no movimento do mundo,

nada duraria senão um segundo.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

A Última Nau



A última nau navega para Além.

Quem a sustém? Quem a firma e quem

a move, se no mar breve se envolve

no nevoeiro que nasce do sonho primeiro?

Pouco importa... pelo menos, as asas

do saco em renda de croché foram cosidas

e robustas carregam as coisas queridas.

E, para além disto, o que mais há então?

A fome, a miséria, a escravidão... e o cansaço.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Diálogo na noite



Há, na noite, vozes

que se encontram,

desafiando o despertar

do dia.

E, nesse declive nocturno,

sonha o silêncio

como se cada um

apenas em si habitasse.

Por isso, agora, cada som,

uma água que escorre,

desperta o que

jamais morre:

a eterna flor do coração

que te ofereço em meditação.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Ditos em aguarelas


A apropriação que faço do título representa

a apropriação que fiz das ideias... apenas isso

sucedeu hoje na aula. E foi tudo tão suave, tão calmo,

tão fluente... como um mil estivesse presente...

Foi, talvez, a última aula do ano, tão estranhamente

em Julho dentro. Foi assim como uma despedida, um adeus destes que foram

os primeiros da multidão da minha vida.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Pedra Amassada


Há, em Portugal, lugares, aldeias ou vilas,

com nomes tão inusitados como criativos. Pedra

Amassada, na Ericeira, é um deles.

E, na chegada ao local, deparámo-nos com vales

e serras aonde o vento agreste, vindo do mar,

faz balançar toda a natureza num movimento enérgico

e poderoso de força. Fomos, com majestade, recebidas

por um gato - que breve, num cabriolar, logo desapareceu.

Poderia ter sido um tigre. Tão distantes da civilização nos

encontrávamos!

Mas da pedra amassada não vi qualquer sinal,

a não ser nos brincos de safira brilhantes que a E. ofereceu,

sinalizando nessa oferta um agradecimento,

de todas nós, ao gentil gesto da Luz,

que nos cedeu a casa.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

A cada dia


dá Deus um novo dia.

É bonita esta frase;

sobretudo,

porque a quem hoje a ouvi dizer

tem uma pobre

mente que não lê nem tão pouco arde.

domingo, 17 de julho de 2011

The red badge of courage


Nos desafios da vida, quem merecidamente

recebe a medalha? Não sei. Do que conheço, a nossa bravura

não obedece senão às circunstâncias do momento,

em que, por qualquer razão, não conseguimos ser

cobardes. A força que encontro em mim e nos outros

é circunstancial: é uma quase impossível cobardia.

Digamos que a Vida não nos dá margem para essa alternativa.

Mas, no entanto, também há aqueles que fogem, ou que fugiram.

Recriminamos? Entregamos uma medalha? Não sei.

E, neste momento, em que reúno cada peça de ouro

e prata, interrogo-me sobre o Destino.

O que fazer? O acto heróico do despojamento e da morte?

O acto cobarde da preservação e da lembrança?

Em qual destes está a medalha espelhada?

sábado, 16 de julho de 2011

Percursos



Ontem, trilhos e margens, no Picoas Plaza.

Um encontro da lusofonia, abrilhantado pelo melodioso timbre

brasileiro de Laura Cavalcante, e com a presença dos guineenses, Odete Semedo

e Tony Tcheka, e do cabo-verdiano, Joaquim Arena, escritores.

E, neste entender de fala uns com outros se expressou

de modo extraordinário o sentido da universalidade portuguesa

no mundo. É raro e invulgar que alguém que expressa o seu sentimento

de amor à pátria possa ser completamente entendido por outrem de

nacionalidade diferente. Mas é o que connosco (povos da lusofonia)

acontece. Por isso, os nossos grandes poetas são transversais a todos

nós e até na riqueza do crioulo há uma ponte que

liga as margens da língua portuguesa na descoberta de novos trilhos.

Nota final: o tempo de duração da mesa redonda, sabiamente gerido.

Nem de mais nem de menos. O tempo exacto para conhecermos os

escritores e a sua poética. E aqui, como sempre, funcionam duas

vozes: a do homem e a da escrita. Às vezes, dá-se a feliz coincidência

de ambos serem excepcionais.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Álbum de Fotografias


Estão soltas... completamente soltas...

como se tivessem vida, e correm pelas minhas mãos

e mergulham no meu olhar que vê. Estas fotografias

a preto e branco e sépia levavam-me a um longe

tão longe que nem sei definir. E ali estão

o avô, a avó, o bisavô, a bisavó, os pais,

outra gente que não conheço, mas que é do meu sangue,

e eu própria, a branco e sépia também.

Colhi este tesouro há um ano atrás e preservo-o

talvez com o ensejo de o deixar em herança

a outros, que de igual modo olhem com uns idênticos olhos

a inscrição de vida que aí está presente. Por isso,

hoje, a tomatada com ovos, na qual demolharei o pão

fresco e branco, será o almoço perfeito para quem

partiu de um longe tão longe e, agora,

neste presente, procura reconstruir o puzzle do tempo

que não é senão uma miragem vaga e vazia de todo. Ao O. entreguei a foto

perfeita da avó, tão jovem, tão moça, e, quando

recuperada, remoçará no tempo

e ficará um instante,

apenas e tão só,

na eterna perfeição

das coisas inamovíveis.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Bailando


Pediram-me que não andasse de saltos altos.

Que aborrecimento! Eu que sempre lavava, com uma esfregona,

e balde, o chão da casa, tenho agora que me mover no silêncio

das bailarinas em pontas. Irei comprar um tutú. E, então,

cada movimento na casa será um bailado em renda

clássico ou moderno consoante o ritmo

da música dos mantras indus

que energizam o espaço.

Sem público, contudo, não colherei os aplausos

merecidos da limpeza diária e do asseio lustroso

do chão. Mas não faz mal, o bailado de pés assentes

e firmes na placa do edifício dar-me-á um novo

sentimento de inteireza merecido e conquistado

no labor dos anos de exercício.

E, depois, justamente hoje, o meu filho, que só

regressará no sábado, deixa-me aberto um campo de

manobras para o ajuste da técnica do ballet.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Púrpura



É inesperada a luz, o sol, as searas

na terra quente e lustrosa. Há um halo

em volta. É o solo que regurgita no canto

das cigarras que ensina o caminho na estrada

tortuosa de alcatrão abrasado. Indiferentes a tudo

isto seguem no trilho os automóveis e as motorizadas.

Mas onde pára o brilho? Sem a luz? Será na terra queimada?


...Um gelado e um café quente fazem esquecer completamente o quadro único

da paisagem encantada.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Fatalidade


Súbito, um medo, que sobe e cresce,

desaparece. E, à volta, as densidades

compactas dos signos e dos sinais tornam-se

factos quotidianos tão simples como a caminhada

da L. e da C. do carro para o prédio ou a chegada

do trabalho de cada vizinho da praceta. E, então,

súbito, revejo-me de novo inteira neste movimento

das coisas universais: a Celeste que teve o AVC e

toma o pequeno-almoço no café; a labuta das mulheres

que varrem as ruas; o vizinho João com quem sempre

falo; os outros companheiros do bairro que acenam

e dizem bom-dia; a florista e o ourives que abrem cedo

as lojas pela manhã.

E, então, interrogo-me que fatalidade súbita é esta?

Tão súbita que o líquido que em mim injecto me faça regressar,

sem que a minha natureza se desintegre. E sem que no Universo

não haja senão um profundo e inamovível silêncio,

como se nada mais existisse do que antimatéria e um eterno vórtice

de buracos negros.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Ao acordar


a diagonal breve, mas lúcida, do sol

projecta-se na cabeceira da cama. Por isso,

gosto do despertar na noite para ver o dia

a nascer. Se soubesse, mediria o movimento

aparente do sol na parede do meu quarto e

do desenho faria um quadro inexistente,

que me despertaria, a cada manhã, com a alegria

clara da roupa brilhante e alvoraçada no estendal

da cozinha. Este é o silêncio que percorre, no amanhecer,

a casa, no Verão, como um fio de luz a escorrer

pelas paredes do prédio.

domingo, 10 de julho de 2011

Talvez passes por aqui...


É incerto, mas, neste entrecruzar de ondas,

partículas, cordas, talvez encontres estas palavras

de felicitação pelo teu aniversário. É a madrinha.

Sim, é a madrinha, que, sem prenda nem telefonema,

quase fez um poema.

sábado, 9 de julho de 2011

Palavras...


Há palavras que vão fundo ao Coração...

Assim foi na troca de escrita entre mim e a I.;

de algum modo, num tão curto espaço de tempo,

embora nos conheçamos há mais de vinte anos,

a I. teve o dom de abrir a comunicação na linguagem

nobre dos afectos. E, de um modo surpreendente,

subitamente, aprendi. E, reconheço, hoje, que é tão

fácil este fluir, este brotar, este derivar...

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Os senhores da guerra


O sentido de uma guerra é fragilizar o

inimigo, criar-lhe medo, e, se possível,

em extremo, levá-lo à desistência total

ao incutir-lhe um sentimento de impotência absoluta.

Assim, se ganha uma guerra.

Hoje, sem espadas nem archeiros, vive-se

uma guerra. Portugal, Irlanda, Grécia

são neste momento três alvos visíveis.

Isso não me incomoda muito... o que me perturba

é não conhecer os rostos dos senhores da guerra.

Vi, vagamente, um deles num destes dias

na televisão, mas foi tão momentâneo, estava de passagem

pelo canal, que nem fixei quaisquer traços humanos.

E, assim, sem rostos, penso que estes novos senhores da guerra

se devem sentir alucinados, tontos, absurdamente

errantes, no dia-a-dia do quotidiano das suas vidas.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Morando no mar...


Ontem fui ver o mar. E a única coisa

que me ocorreu foi meditar sobre aquele

conto zen, que narra uma história em que,

num passeio, observando a Natureza, de entre três

amigos, um inadvertidamente disse «É belo!». Pois, estas

duas palavras apenas foram demais: perturbaram

a qualidade do absoluto que se suspendia em cada um,

relativizando, porque é essa a natureza das palavras.

Ontem, também, duas notícias de duas

mortes, uma de um jovem e outra de uma mulher. O que dizer?

Também nada. Apenas silêncio

face ao absoluto e ao mistério.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Partilhando...


não há limites para a criatividade

do Homem... a mais extraordinária beleza

pode eclodir à nossa frente como um

singular voo de pássaro.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Liberdade


Que movimento tão cheio de nada

Que fonte tão suave querida

Que nada mais firme que tudo

Assim é a Liberdade!

Mais que o prana da vida.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Num Bairro Moderno


há grandes carrinhos de mão carregados,

a abarrotar, como prova da labuta daqueles

que ganham o pão de cada dia num esforço

épico. Talvez assim também seja com a Paz... que no Domingo

me pediu «e se me ajudasse?». E ambas levantámos

do chão todo aquele peso e subimos dois ou três lances

de escadas. Numa imensa, quase igual, semelhança a Cesário,

também eu me senti revigorada; não pela força do contacto

com a terra, mas pela força emergente presente na labuta diária

da Paz. E a Paz ri e brinca e é alegre e bem disposta!

Que extraordinária lição! Que tão único bairro moderno onde mora a Paz!

domingo, 3 de julho de 2011

O Grito


Estive em tempos no Facebook, fui quase a primeira

de entre as pessoas que conheço...saí.

O meu contributo mais efectivo, nessa altura, foi um vídeo

de demonstração de uma «máquina de dobrar camisetas», pois

era com espanto que observava. Mas, agora, voltei.

E voltei porque percebi que há gritos que ecoam

com tal força que podem até transfigurar

o absurdo. Voltei, dizendo que, sim, sim, ouvi o

grito. Ele era um simples vendedor de fruta...

era um vendedor de fruta que acreditava na vida.

sábado, 2 de julho de 2011

Concha


Era um mar calmo de Abril,

à volta, na areia, húmida

e endurecida,

havia um espelho de água,

límpido como um cristal;

simplesmente, apenas, larguei a concha

da mão, sem mais nada, não,

para que assim estivesse

no universo a medida

da palavra deste verso.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Gateway


A porta da universalidade, que se traduz

na aplicação de um imposto para todos os rendimentos

(legitimamente os de quem condignamente possa ser tributado)

é mesmo para Todos? Não percebi. Longe vai o tempo em que sentada

à secretária folheava as dezenas de páginas de legislação do Diário

da República; e, assim passava uma tarde, divagando em torno de

articulados quase dignos de serem epitetados de literários.

Por isso, não deve valer a pena ler o decreto-lei, quando o houver.

Onde está presente, então, a porta da universalidade? Simples,

no Oceano Pacífico, na Ilha da Páscoa. Aí, universalmente presentes,

os verdadeiros Gigantes: enigmáticos e silenciosos

olham suspensos o jogo do mundo.