Bailando
Pediram-me que não andasse de saltos altos.
Que aborrecimento! Eu que sempre lavava, com uma esfregona,
e balde, o chão da casa, tenho agora que me mover no silêncio
das bailarinas em pontas. Irei comprar um tutú. E, então,
cada movimento na casa será um bailado em renda
clássico ou moderno consoante o ritmo
da música dos mantras indus
que energizam o espaço.
Sem público, contudo, não colherei os aplausos
merecidos da limpeza diária e do asseio lustroso
do chão. Mas não faz mal, o bailado de pés assentes
e firmes na placa do edifício dar-me-á um novo
sentimento de inteireza merecido e conquistado
no labor dos anos de exercício.
E, depois, justamente hoje, o meu filho, que só
regressará no sábado, deixa-me aberto um campo de
manobras para o ajuste da técnica do ballet.
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