sexta-feira, 15 de julho de 2011

Álbum de Fotografias


Estão soltas... completamente soltas...

como se tivessem vida, e correm pelas minhas mãos

e mergulham no meu olhar que vê. Estas fotografias

a preto e branco e sépia levavam-me a um longe

tão longe que nem sei definir. E ali estão

o avô, a avó, o bisavô, a bisavó, os pais,

outra gente que não conheço, mas que é do meu sangue,

e eu própria, a branco e sépia também.

Colhi este tesouro há um ano atrás e preservo-o

talvez com o ensejo de o deixar em herança

a outros, que de igual modo olhem com uns idênticos olhos

a inscrição de vida que aí está presente. Por isso,

hoje, a tomatada com ovos, na qual demolharei o pão

fresco e branco, será o almoço perfeito para quem

partiu de um longe tão longe e, agora,

neste presente, procura reconstruir o puzzle do tempo

que não é senão uma miragem vaga e vazia de todo. Ao O. entreguei a foto

perfeita da avó, tão jovem, tão moça, e, quando

recuperada, remoçará no tempo

e ficará um instante,

apenas e tão só,

na eterna perfeição

das coisas inamovíveis.

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