Álbum de Fotografias
Estão soltas... completamente soltas...
como se tivessem vida, e correm pelas minhas mãos
e mergulham no meu olhar que vê. Estas fotografias
a preto e branco e sépia levavam-me a um longe
tão longe que nem sei definir. E ali estão
o avô, a avó, o bisavô, a bisavó, os pais,
outra gente que não conheço, mas que é do meu sangue,
e eu própria, a branco e sépia também.
Colhi este tesouro há um ano atrás e preservo-o
talvez com o ensejo de o deixar em herança
a outros, que de igual modo olhem com uns idênticos olhos
a inscrição de vida que aí está presente. Por isso,
hoje, a tomatada com ovos, na qual demolharei o pão
fresco e branco, será o almoço perfeito para quem
partiu de um longe tão longe e, agora,
neste presente, procura reconstruir o puzzle do tempo
que não é senão uma miragem vaga e vazia de todo. Ao O. entreguei a foto
perfeita da avó, tão jovem, tão moça, e, quando
recuperada, remoçará no tempo
e ficará um instante,
apenas e tão só,
na eterna perfeição
das coisas inamovíveis.
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