terça-feira, 12 de julho de 2011

Fatalidade


Súbito, um medo, que sobe e cresce,

desaparece. E, à volta, as densidades

compactas dos signos e dos sinais tornam-se

factos quotidianos tão simples como a caminhada

da L. e da C. do carro para o prédio ou a chegada

do trabalho de cada vizinho da praceta. E, então,

súbito, revejo-me de novo inteira neste movimento

das coisas universais: a Celeste que teve o AVC e

toma o pequeno-almoço no café; a labuta das mulheres

que varrem as ruas; o vizinho João com quem sempre

falo; os outros companheiros do bairro que acenam

e dizem bom-dia; a florista e o ourives que abrem cedo

as lojas pela manhã.

E, então, interrogo-me que fatalidade súbita é esta?

Tão súbita que o líquido que em mim injecto me faça regressar,

sem que a minha natureza se desintegre. E sem que no Universo

não haja senão um profundo e inamovível silêncio,

como se nada mais existisse do que antimatéria e um eterno vórtice

de buracos negros.

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