Fatalidade
Súbito, um medo, que sobe e cresce,
desaparece. E, à volta, as densidades
compactas dos signos e dos sinais tornam-se
factos quotidianos tão simples como a caminhada
da L. e da C. do carro para o prédio ou a chegada
do trabalho de cada vizinho da praceta. E, então,
súbito, revejo-me de novo inteira neste movimento
das coisas universais: a Celeste que teve o AVC e
toma o pequeno-almoço no café; a labuta das mulheres
que varrem as ruas; o vizinho João com quem sempre
falo; os outros companheiros do bairro que acenam
e dizem bom-dia; a florista e o ourives que abrem cedo
as lojas pela manhã.
E, então, interrogo-me que fatalidade súbita é esta?
Tão súbita que o líquido que em mim injecto me faça regressar,
sem que a minha natureza se desintegre. E sem que no Universo
não haja senão um profundo e inamovível silêncio,
como se nada mais existisse do que antimatéria e um eterno vórtice
de buracos negros.
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