quarta-feira, 27 de julho de 2011

Aroma de café


Vivemos tempos em que a imprevisibilidade

é a nota dominante do nosso quotidiano. Como

será a situação social, económica ou política

daqui a um ano, daqui a seis meses, na próxima

semana? Não se sabe. E, no entanto, a maioria de nós

vive absorta a esta fragilidade absoluta do dia-a-dia.

Exemplo disso está patente numa ida

a uma loja de venda de cápsulas de café da Nespresso:

o cerimonial de circunstância no atendimento a cada

cliente, por parte dos colaboradores da loja, faz-nos

pensar que atingimos os picos extraordinários

de algum estatuto social ou humano,

traduzível numa afectação de cortesia

em que tudo é representação. E é desse mesmo teatro que se alimenta,

na vida, a crise económica e política, as estruturas de poder, e até as

relações humanas. Tudo é raro, extraordinário e imprevisível,

mas continuamo-nos a comportar como actores em palco,

representando um certo, mesmo frágil, papel, numa

opereta em que, como os colaboradores da Nespresso,

não nos rimos e como que levamos a sério

o cerimonial de afectação. Tudo é de plástico, neste

momento. Na próxima ida à loja da Nespresso,

irei exigir a reutilização do saco e não a sua reciclagem.

Talvez, aí, então, perante um facto inusitado,

eu chegue à fala com um outro ser humano.

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